segunda-feira, 30 de março de 2009

Virtual

Em brincadeiras virtuais,
criam-se cumplicidades,
urdem-se novas vidas.
A troca de pensamentos
e de falsas verdades,
faz-nos sentir maiores.
Insuflada de nadas,
cheia de coisa nenhuma,
nesta lista de faz-de-conta,
os amigos de ecrã,
contam-se, somam-se,
como camisas ou lápis...
Trocam-se fotografias,
palavras e sorrisos,
como se fossem tesouros.
Somos mais jovens,
extrovertidos, sedutores;
renascendo uma e outra vez
- tantas quanto quisermos!
Hoje sou maestro, amanhã policia...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Cidade encantada...

Calcorreio as ruas da cidade, com banda sonora escolhida.

A cada passo, sinto Lisboa a entranhar-se mais em mim!

Redescubro cantos e recantos, nesta terra de luz etérea.

Revisito espaços cheios de histórias; minhas, dos outros e dela.

Deslumbro-me, encanto-me, perco-me durante horas, sob o sol ameno da capital.

Vendo o Tejo, do alto de uma colina, a emoção assalta-me, e os olhos humedecem.

Soubesse eu cantar e entoaria um hino a esta beleza secular...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Voltou!

O vento sussurra as notas
de uma melodia insistente:
as árvores ondulam, dançam,
as flores espreitam, tímidas,
e eu sorrio, trauteio e celebro.
Voltou, a mãe de todos -
a Primavera retumbante
de alegria, seiva, vida!
Sente-se um frenesim,
uma electricidade no ar;
os passos são mais lentos,
dançados, nesta nova luz,
que traz amor e calor.
O padrasto frio e distante,
que nos molha, arrefece
e afasta de tudo, voltará...
Mas agora, docemente,
ombreamos a felicidade,
olhando o céu, o sol e o mar,
meigos, calmos, amigos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Voar

Entrego-me ao tempo...
Sei que estará comigo,
curando, remendando,
os rasgões de outra vida.
Segundas oportunidades,
quiçá as terceiras,
sem mistérios ou dores,
tecendo novos dias.
Uma estória que muda,
se restaura e recria,
lapidando a alma,
a cada novo momento.
Serei quem sonhei,
voarei sem grilhetas,
e a verdadeira plumagem,
exótica e deslumbrante,
poderá finalmente renascer.

terça-feira, 24 de março de 2009

Cores

Com a mente solta e um sorriso aberto, olho em volta e vejo o mundo em technicolor.

Cores, matizes, gradações, novidades tão variadas para quem só conhecia negro, cinza e sombras.

A cada novo dia descubro estas cores vibrantes que, estranhamente, nunca vira antes.

Amarelos canário, azuis de céus e mares, encarnados intensos e tantas, tantas outras!

Quero guardar em mim tudo o que agora vejo, deixando que a alma se inebrie de côr e seja impossível tornar a ficar cega!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Surpresas

Que estranha a vida...
Quando a pensamos
controlada, domada,
escoiceia e fere,
sem qualquer aviso!
Quando a sentimos
indomável, rebelde,
impossível e insuportável,
surpreende-nos,
oferecendo sonhos,
amigos, amores!
Pensar o impensável,
esperar o inesperado,
ou, melhor ainda,
nada esperar...
Aceitar que tudo
pode acontecer,
sem tentar lutar...

sábado, 21 de março de 2009

Emoções

A vida é tão mais doce
quando sentimos paixão!
As cores mais acesas,
os sons mais diluídos,
os movimentos suavizam-se,
como se dançássemos
ao som de uma música,
lenta, envolvente, repetida
vezes e vezes dentro de nós.
Apaixonada pela paixão,
confundindo sentimentos,
com desejos e vontades.
Criando uma teia
de ilusão, fantasia,
preenchendo o vazio
deixado por outro.
Neste vício de emoção
não sentir é não ser,
nem sequer existir.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Tesouros

Instantâneos da vida,
momentos capturados
pela retina e pela memória,
quais fotos baças,
carcomidas pelo tempo
e gastas de tanto toque.
Ver-vos, acorda em mim
a criança que já fui,
a jovem que não quis ser,
e a adulta ainda por
se conhecer.
Minhas amigas,
meus tesouros,
provas de quem sou
e de quem posso ser
se o quiser, se o souber.
Manhãs, tardes e noites,
vividas em comum;
como pode ter-nos
a vida feito tão diferentes?
Melhores agora,
do que outrora,
seremos sempre, sempre,
espelhos do passado
e amparos para o futuro.


Beijos para as melhores amigas que alguém poderia desejar... As minhas!

Shutdown e restart...

O que ontem era escuridão e tristeza, hoje é luz e alegria!
É essa a grande beleza da vida. Cada acordar é um "restart" ao sistema...
Em cada dia podemos ser quem quisermos ou pudermos, sem importar demasiado quem éramos no dia anterior...
Podemos vestir e despir a pele, vezes e vezes sem conta. E nada, nem ninguém nos pode deter, se assim o quisermos.
Estar com amigos verdadeiros enche o coração e faz-nos lembrar as coisas boas que a vida já nos deu. E, olhando para trás, não foram assim tão poucas!
Ainda que em determinados momentos o esqueça, adoro estar viva.
Angustiar-me, descabelar-me com as ninharias, deleitar-me com os pequenos e grandes prazeres, perder, descobrir e redescobrir amores, amigos, interesses, emoções, pensamentos...
Ontem flutuava por me sentir oca, hoje flutuo por me sentir feliz.

O céu caiu? Ou sou só eu?

Depois de um turbilhão de emoções, em que quase nem me dei tempo para as sentir, hoje sinto-me um bocadinho como se o céu se tivesse abatido sobre mim.
Estou cansada, tristonha e a tentar não me deixar levar por esta sensação de que, por mais que tente, nada é como gostaria que fosse.
Existem dias assim... Em que o pessimismo e os receios rondam como abutres, à espera que caia para possam finalmente deleitar-se.
Preciso fortalecer-me, encher-me das vontades certas e esquecer as acessórias. Parece tão simples! Mas hoje nada é simples...
As ideias agitam-se na minha cabeça, a uma velocidade que me deixa tonta, e quase paro de respirar. Como se estivessem a apertar-me sem deixar o espaço suficiente para que os pulmões façam o que sempre fazem.
Quero muito não me sentir assim, mas a angústia tem este efeito envolvente. Cola-se a mim e começa a entranhar-se sem que lhe consiga fugir.
Por dentro sinto-me vazia. Tão oca que uma rabanada de vento poderia arrastar-me.
Preciso de mim, mas hoje não consigo encontrar-me!

terça-feira, 17 de março de 2009

Obrigada

Numa dinâmica tão estranha,
em que quem ensina,
é quem deveria aprender,
vais-me empurrando...
Fazes-me redefinir
os limites de mim mesma.
Tornas-me maior, melhor!
Descubro forças,
que nem sabia ter.
Retomo caminhos perdidos
e sonho novos.
Esta versão luminosa
de mim mesma,
faz-me querer mais e mais.
Quando duvidares de ti,
lembra-te de mim...

segunda-feira, 16 de março de 2009

"Oops.. I did it again"

Escrever está quase a tornar-se um vício.
Aqui deixo o que penso, o que sinto e alguma fantasia à mistura, nunca deixando saber, ao certo, o que é o quê...
Por vezes nem eu própria sei distinguir entre sentimentos, vontades, desejos, trocando uns pelos outros, confundindo-me ainda mais, para depois trocar tudo de novo! Confesso que às vezes acho que não é fácil ser eu própria...
Dir-se-ia que o passar dos anos traria alguma sabedoria, algum conhecimento, certezas, mas apenas me trouxe o incómodo de ter 38 anos, falta de clarividência, dúvidas e um comportamento errático, oscilando entre a loucura e a sanidade, nunca conseguindo encontrar o meio termo!
Sinto-me como se estivesse num trapézio, que não pára, oscilando entre os extremos... Se parasse, seria exactamente no meio... tal qual a virtude!
Pareço estar fadada para a mítica "pata na poça". Figura de que, na realidade, nunca ninguém viu o original, mas da qual eu faço umas personificações magistrais. Seria bom, por uma vez, acertar nas palavras, dizer aquilo que gostariam de ouvir-me. Ser menos sagitário, enfim!
E esta mania de ter o que não posso! Hum... Um amigo disse-me que escolho situações impossíveis para evitar a vida! Mas acho que não sou eu que as escolho exactamente... Também não posso dizer que as situações me escolhem a mim, seria ridículo! Digamos apenas que, quando uma pessoa sensata bateria em retirada, eu fico parada, só para ver o que acontece depois. E depois... depois é demasiado tarde!
Como diria outra doidivanas "Oops.. I did it again"!

Tempo

Nunca sei quando ir ou ficar,
sou levada por este tempo,
que não é o meu,
sem saber porque o faço.
Não existe a sintonia do quando,
mas uma brincadeira de crianças,
jogando às escondidas.
Não existe a verdade,
mas apenas um jogo
de palavras dúbias.
Neste tempo circular,
repetindo padrões,
canso-me, perco-me.
Quero o meu tempo,
síncrono, ou não tê-lo!

domingo, 15 de março de 2009

Apenas letras

Sonhos, suspiros,
saudades, sorrisos,
silêncios, semântica.
Liberdade, luxúria,
lágrimas, labirintos.
Caprichoso, casto,
casual, categórico,
completo, censurado.
Permeável, pleno,
paradoxo, positivo.
Náufrago, necessário,
nobre, notável,
nocturno, nosso.
Tesouro, traiçoeiro,
tolo, transformador,
tépido, total!

Os meus dias

Os dias seguem-se, encarreirados, seguros do seu caminho. E embora estes dias se alinhem, numa recta da qual ainda não se vê o fim, quando passo por eles não existe qualquer sensação de geometria ou segurança.
Cada 24h formam uma montanha-russa, onde vou do riso às lágrimas, do desespero à esperança, do obrigatório ao proíbido. Solto-me e prendo-me, brinco e ralho, amo e ignoro.
Serão os vossos dias também assim? Ou, como me costuma dizer um amigo (num misto de espanto e carinho) sou apenas "doida"?
De tempos a tempos penso que gostaria de dias cheios de paz, serenidade, mas na verdade, acabaria por odiá-los!
Um pouco como quando vou visitar os meus pais e me regojizo com o silêncio, o ar puro, o canto dos pássaros, para três ou quatro dias depois ansiar pelo barulho, pelo ar poluído e pela vida fervilhante da capital...
Não saberia viver assim, com coerência, fazendo as coisas sempre da mesma forma.
Existe algo de esquizofrénico em mim! Não a doença mental, literalmente, mas a sensação de que não sou uma, mas várias. E cada uma delas sendo o oposto da anterior, vivendo numa luta cacofónica diária.
Vejamos: existem a pessimista, que me ensombra os dias, e a optimista que garante o resultado, a preguiçosa, que me entorpece, e a trabalhadora, frenética e imparável, a doce, carinhosa, e a agressiva, cheia de uma raiva contida, a sedutora e a tímida, a segura e a que espera sempre aprovação externa, a racional e a fantasiosa, que sonha com o impossível... e poderia continuar esta lista quase sem fim das múltiplas personalidades que se misturam em mim.
Por tudo isto os meus dias, mesmo quando vazios, de gente ou significado, são cheios de emotividade, de paixão, de raiva, de luta interior, por vezes até à exaustão.
Sei que estou no caminho para que as melhores facetas de mim ganhem mais e mais terreno, mas serei sempre emotiva, imprevisível e apaixonada, porque não existe outra forma de ser.

sábado, 14 de março de 2009

Jogo secreto

Queria poder guardar
bem dentro de mim,
cada sensação, cada tremor!
Por entre o silêncio
de gritos sem voz,
o tacto conduz-nos,
quando os olhos
deixam de ver.
A vida palpita na pele,
e o coração rebenta uma,
outra e outra vez.
Respiramos coordenados,
num mundo de fantasia,
cheios de intensidade,
força e ilusão.
É como se renascessemos
em cada noite,
plenos de cumplicidade.
Trocamos risadas,
confidências e pensamentos.
Quebramos barreiras,
para nos tocarmos.
Neste jogo secreto,
eu preciso de ti
e tu precisas de mim!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ai...

Espero, ansiosa, porque não sei esperar. Espero por um telefonema, um sinal, para que a minha vida se decida, para poder melhor imaginar o amanhã. Quem não sabe esperar, tem sempre pressa que tudo aconteça, que tudo chegue, até o amanhã!
Penso como será quando o telefonema chegar, no que irei sentir se a resposta fôr uma ou outra. Penso no que devo fazer a seguir. Sim, porque em qualquer dos casos, o "a seguir" pode ser difícil. Receio o sim porque mudará tudo. Receio o não porque significa mais uma espera, mais um momento adiado na minha vida...

Coisas

Há coisas que deviam ser tão fáceis como um piscar de olhos.
Há coisas que, por tão difíceis, deviam trazer manual de instruções.
Há momentos em que vemos tudo tão facilmente e outros em que, dificilmente, um equipamento de visão nocturna poderia dar uma ajuda.
Há pessoas fáceis, pessoas difíceis, pessoas fáceis que nos tornam a vida difícil, pessoas difíceis que nos tornam a vida fácil.
Há pessoas que resolvem situações difíceis, fáceis, assim-assim e há pessoas que não resolvem coisa nenhuma.
Há animais fáceis e, por experiência própria, posso garantir que existem animais difíceis.
Poderemos nós escolher?
E se pudéssemos, como o faríamos? Tudo fácil? Tudo difícil? Ou preechendo uma matriz em que para cada um dos mínimos detalhes da nossa vida indicaríamos fácil ou difícil?
E seria fácil a escolha ou simplesmente ainda mais difícil?
E a verdade é que este texto, que pretendia fácil, tornou-se a cada linha mais e mais difícil...
Acho que vou ouvir música e tornar o meu dia difícil, numa noite muito fácil!

terça-feira, 10 de março de 2009

Rencontrar-te-ei... um dia.

Hoje revi-te em sonhos.
Os teus olhos cinza,
de mar revolto,
o sorriso trocista
e incómodo.
Voltei a sentir
a emoção, o tremor.
O coração acelerado,
quase rasgando
a carne!
Meu primeiro,
meu único amor!
Cravaste em mim
esse olhar indelével
e a marca do teu amor,
tão puro e grande
como o meu.
Quão difícil tornaste
ter espaço para outro
amor assim,
imenso,
intenso,
envolvente,
inolvidável.
Meu grande,
grande amor,
por onde andarás?

(Dedicado a um amor que sobreviveu a décadas de ausência)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Dúvidas

Hoje estou à mercê
de pensamentos
e dúvidas.
Perguntas que não faço
e respostas ausentes...
Confundindo emoções
com sentimentos;
ou será ao contrário?!
Fantasias, realidade,
misturam-se numa amálgama,
jogando e iludindo.
Este vazio que cresce
de dentro para fora,
é verdadeiro
ou uma sombra,
que imagino real?
Fujo para a frente,
enganando o destino?
Ou corro no seu encalço?
Terei coragem,
inconsciência,
ou apenas medo?
Conforta-me,
saber que amanhã
nada disto me interessará
e voltarei a viver.
Um dia, outro e outro,
vibrante, plena!
Porque esta sou eu...

Ruídos

Pequenitos nadas,
momentos insignificantes,
com o poder tremendo
de alegrar ou entristecer!
Um olá, um adeus,
um olhar ou trejeito,
uma palavra,
ou mesmo outra.
Eu digo, tu ouves,
tu dizes, eu oiço.
Seremos surdos,
ou a verdade
do que sentimos
está em cada pausa,
em cada palavra muda?
Existe uma diferença,
entre quem dá
e quem recebe,
onde um nada
pode ser tudo...

sábado, 7 de março de 2009

contos

A primeira vez que se viram foi numa noite calma de verão. Esperava uma amiga que, como sempre, se tinha atrasado.

Quando ele passou, cruzaram o olhar. Nada mágico, nenhum aperto no estômago. Embora fosse tão impressionante que a fez virar-se para o apreciar, eram apenas dois estranhos que se cruzaram numa cidade onde vivem tantos outros. A Rita chegou e não tornou a pensar nele. Não queria saber de homens, atracções, relações! Estava farta de desilusões, amarguras. Queria divertir-se, dançar. Sobretudo dançar!

Na discoteca, enquanto se abanava freneticamente ao som da música, espantando frustrações e tristezas, voltou a vê-lo.

Dançava bem. Seguro de si. Sem aquela vergonha de alguns homens que pensam que o facto de ter ritmo e sensualidade lhes pode colocar em causa a masculinidade!

Observou-o, de forma discreta, ou pelo menos achava que sim, até que Rita lhe dá um toque no ombro
- Rapariga, nem eu costumo ser tão óbvia!
Corou, protegida pelo jogo de sombra e luz que as envolvia.
-Não sei do que falas... Tentou disfarçar.

Ele aproximou-se, ainda dançando, e agarrou-lhe a mão. Dançaram juntos, ao mesmo ritmo, os corpos tão perto e sicronizados, que pareciam um só. Durante horas não trocaram palavra e, embora quisesse vê-lo, evitava-lhe o olhar. A a timidez sobrepunha-se à vontade!

Quando ele se inclinou, para lhe dizer qualquer coisa, fugiu. Refugiou-se na casa de banho, cheia de raparigas e mulheres, retocando maquilhagem, trocando confissões, ou apenas esperando, numa dança contorcionista, até que a sua vez chegasse.

Esteve ali uns largos minutos, desejando que Rita se tivesse apercebido da manobra de recuo. Mas a amiga não aparecia e acabou por ter que sair para procurá-la.

Mal cruzou a porta sentiu uma mão no ombro.

- Estás bem? Desapareceste tão depressa. Fiquei preocupado.

Durante dois segundos, que lhe pareceram muito mais que isso, ficou imóvel, sem se virar, pensando o que poderia responder. E apenas lhe saiu um atabalhoado

- No portuguese. No speak.

Ele repetiu-lhe as mesmas palavras em inglês, primeiro, depois em francês, italiano, espanhol...

Já mortificada, porque não conseguia mentir, atirou-lhe com um

-Me go. E fugiu novamente.

Encontrou Rita e obrigou-a a correr toda a noite, num jogo infantil e ridículo, em slalom pela pista cheia, apenas para conseguir evitá-lo.

Quando finalmente se fartaram e deram a noite por terminada, foram buscar os casacos.

O empregado perguntou-lhe quantos casacos eram e depois de responder, virou-se para confirmar que Rita não tinha sido engolida pela multidão que se amontoava atrás de si, e ali estava ele, com um sorriso trocista.

- Afinal you speak portuguese very good... Disse, ainda com aquele ar de gozo.

- Não te preocupes. Foi a rejeição mais creativa que tive até hoje!

O seu intímo gritava "Qual rejeição?! Cobardia...". Os homens demasiado atraentes e seguros de si sempre a tinham assustado. Faziam-na sentir-se pequenina e insegura. Falta de auto-estima dirão alguns. Seria...

- Posso deixá-las nalgum lado?

- Não. Disse ela quase sem pensar.

- Sim. Ouviu a seu lado.

Traidora! Amanhã vais ter que me ouvir.

Ele ria, com aquele ar de quem sabe qualquer coisa que mais ninguém sabe.

- Em que ficamos? Sim, não, nim? E se fossemos saindo, para esta gente simpática também receber os seus casacos? Discutimos essa diferença de opiniões lá fora.

Carrossel

Depois de uma semana cheia de trabalho e emoções fortes, o dia hoje parecia-lhe tão parado que tinha a sensação de ouvir o som dos segundos que tardavam a passar.
Olhou para o quarto, desarrumado, quase como se fosse um espelho da sua vida. Queria mudar ambos, mas sentia-se presa ao chão, sem saber como se mover. Era difícil escolher por onde começar...
Quanto mais revia os últimos meses, anos, mais estranho tudo lhe parecia. Como se não os tivesse vivido na primeira pessoa e fossem apenas uma estória que alguém lhe contara. Um verdadeiro carrossel, que nunca saía do mesmo sítio, dando voltas e voltas, variando apenas a velocidade e as pessoas que passavam perto.
Os segundos continuavam... tique... taque... bulindo-lhe com os nervos!
Pensou dormir, mas pareceu-lhe um desperdício. Sair não lhe apetecia. Podia ler... Mas aquele maldito som dos segundos parecia que não a deixava sequer pensar, portanto a leitura estava fora de questão! Mudou de canal, uma e outra vez, procurando não sabia bem o quê. Ou talvez nem procurasse nada e os toques que ía dando no comando eram apenas uma forma de se assegurar que estava viva.
Olhou em volta e, finalmente decidiu-se. Não interessava realmente por onde começava! Tanto fazia se arrumasse a pilha de roupa, ou limpasse o pó, o que importava mesmo era começar. A partir daí tudo seria mais fácil.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Cansada...

Embrenhada nos meus dias
quase nem te noto a falta,
mas quando o cansaço me quebra
sinto a falta dos beijos meigos
que me rejuvenesciam o corpo
e adoçavam a alma.
Depois de cada dia infernal,
estes muros altos,
que me protegem,
abrem largas brechas
e as memórias invadem-me,
impiedosas e demolidoras
trazendo imagens e sons.
Neste misto agridoce
de sensações revividas
e saudade dolorosa,
fecho os olhos e espero,
até que o sonho venha,
redentor, salvando-me de mim,
reerguendo as defesas
e preparando mais um dia
em que quase nem te noto a falta...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Abril 2001

Queria sentir, meu Amor,
A minha marca nos teus dias.
Saber que sou intrínseca, indissociável,
Do teu ser...
Porque é assim, meu Amor,
Que vives dentro de mim!
Invadiste-me o corpo e a alma,
Centímetro, por centímetro.
Trouxeste magia e cor,
À minha vida tão cinzenta.
Observo-te enquanto dormes...
Inspiras, expiras e repetes tudo de novo.
O simples oscilar do teu peito,
Afasta-me da melancolia.
Adormecer e acordar a teu lado
É, meu Amor, uma alegria indizível!

E agora?

Ontem achava que estava a mudar... e hoje mudei mesmo!
Num impulso, que espero muito mais frutífero e saudável que todos os anteriores, decidi voltar a enfrentar o meu maior espinho.
Este é o momento e, se o deixasse passar, talvez não tornasse a existir outro...
Vou dar-me a possibilidade de emendar o fracasso que nunca me permiti perdoar ou esquecer.
De todos os erros que cometi, e foram muitos, mesmo, mesmo muitos, este foi aquele que deixou uma marca que nem o tempo conseguiu esbater.
Sei que essa marca me pode pesar demasiado e não me deixar vencer, mas já o faz, de outras formas, ao longo de mais de uma década!
Portanto, receios à parte, vou ter que procurar no meu "kit extra de força" o fato de mini-super-heroína e lutar contra as forças do mal, acreditando que desta vez serei eu a vencedora.
Espero que a palmadinha nas costas que hoje dei mentalmente a mim mesma, seja apenas a primeira de muitas...


Um beijo muito grande para todos os que me foram empurrando, ao longo dos anos, até chegar aqui.

terça-feira, 3 de março de 2009

Nova edição

Hoje, mais do que ontem, estou convencida de que algo muda em mim!
Iniciei uma verdadeira senda; descubrindo padrões que me armadilham, desmascarando fantasmas e inimigos sombrios que me espreitaram toda a vida.
Um a um, vejo-os perder peso, tornando-se, primeiro, suportáveis, depois contornáveis e finalmente em memórias que fortalecem.
Ainda de forma atabalhoada, cheia de dúvidas e com algum daltonismo, sigo em frente, emendo e corrijo a rota. Mas esta viagem de descoberta é irreversível e imparável.
Disseram-me, recentemente, que vim ao mundo equipada com um kit extra de força!
Primeiro ri, porque raras vezes me vi dessa forma.
Mas a verdade é que, apesar dos caminhos de sombra que fui trilhando, consegui sempre ressurgir na luz.
Uma e outra vez ferida, mas voltando sempre inteira, quase como um gato e as suas nove vidas.
Passo a passo, ou talvez pé ante pé, uma pessoa que ainda não conheço vai surgindo...
Mais completa, menos vazia de verdade, mais cheia de vida e numa luta diária com quem ainda sou, esta nova versão de mim mesma poder-se-ia dizer revista e aumentada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Dançando

Dançando pela casa,
a batida pulsando em mim
a cada meneio, a cada gesto.
O som da música guia-me,
agita-me e rodopio,
rio, canto!
Enredeio-me no ritmo,
como se fosse um tecido
roçando a pele nua.
Inebriada pela melodia,
a sensualidade
à flor da pele
traz fantasias,
sonhos e memórias.
Sinto-me livre, feliz,
dançando pela casa
esquecida dos dias,
das noites
das penas,
dos amores
e rejeições...

Espelho

Hoje olhei-me finalmente ao espelho.
De tanto lhe fugir quase não me reconheci!
Perdi tanto tempo à procura de algo, alguém,
quando apenas necessitava de mim.
Tantos afectos e pensamentos
gastos com os demais,
nunca sobrando sequer
réstea de amor-próprio!
Hoje olhei-me finalmente ao espelho
e decidi que não me abandono mais.
Nunca ninguém será mais,
ou maior que eu mesma.
Serei rainha dos meus dias,
como nunca ousei ser.
Serei princesa quando
me apetecer.
Hoje olhei-me finalmente ao espelho
e percebi. Finalmente percebi...