Um dia destes, a minha vidinha certinha e insonsa desfez-se sem que pudesse sequer dizer "ai!". A realidade, numa pirueta inesperada, apanhou-me cega e desprevenida, atirando-me ao chão.
De onde surgiu esta falta de clarividência? Como não vi chegar o amanhã? Onde se esconderam as minhas respostas sempre prontas?
As palavras tomaram, de repente, significados diferentes daqueles que lhes conhecia e os meus dias ficaram envoltos numa névoa espessa. Entorpecida, ferida e oca, arrastando-me de uma manhã para outra tentei virar e revirar a verdade, fosse ela qual fosse!
Até que percebi que não vale a pena perguntar "o que poderia ter feito diferente?", porque os "ses" e os "mas" são um veneno que quase nos mata!
A névoa foi-se desfazendo e acabei por deixar entrar outras perguntas e outras gentes; e dei por mim novamente à mercê das piruetas da realidade!
Que diabos fazer quando aquilo que pensamos ser uma verdade absoluta se enche de matizes cinzentos? Agarramo-nos àquilo em que acreditamos ou damos espaço a que novas e estranhas verdades surjam? Que mundos surpreendentes e assustadores nos esperam quando não espartilhamos a realidade com o preto e branco do certo e errado?
A medo, e sem certezas ou respostas de qualquer espécie, decidi que viver sem surpresas me encolhe a alma, o coração e a capacidade de ser humana. De cada novo dia espero cor, surpresa, emoção... e, nunca, nunca mais, uma vidinha certinha e insonsa!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário